Fora os milhões de Reais que o Governo do Estado gasta com
cada edição do famigerado “Governo Itinerante”, Marconi Perillo acaba de
entregar R$2,5 milhões para os dirigentes do Goiás Esporte Clube reformarem o campo
da serrinha para que a Seleção Brasileira pudesse fazer apenas alguns treinos.
É algo inusitado e surreal, além do que é uma tremenda covardia com os demais
times como Vila Nova e do Atlético, além do Anápolis e Anapolina bem como os
demais clubes que disputam o campeonato Goiano.
Na vistoria que a CBF fez nos CTs de Goiânia, todos precisavam de algum tipo reforma, mas o campo escolhido, não se sabe com quais critérios, foi o do Goiás Esporte Clube, talvez porque seja mais central e mais imponente. Será que o governo do Rio de Janeiro repassou alguma grana para o Flamengo melhorar o campo da Gávea para a Seleção treinar vários dias lá? De acordo com as informações que obtivemos, nenhuma reforma foi realizada na Gávea para receber a Seleção Canarinho.
Para realizar apenas alguns treinos, por que o Governo Estadual não liberou o Serra Dourada que é muito melhor do que a Serrinha? Mesmo que fosse necessário fazer algum tipo de ajuste, pelo menos os recursos seriam gastos em um estádio público e não de um time particular como é o caso do CT do Goiás Esporte Clube. É neste momento que se observa a cumplicidade do Ministério Público de Goiás, que deveria ter embargado qualquer repasse de dinheiro público para uma organização esportiva particular. Mas nada foi questionado a não serem alguns poucos veículos de comunicação independentes.
O pior de tudo é que o técnico da Seleção Brasileira, Felipe Scolari, nem queria vir treinar em Goiânia, mas para fazer média com o povo goiano que não pôde sediar jogos da copa, vem essa estada como consolo. Mas que console é este em que o povo teve que pagar R$2,5 milhões para receber a seleção para alguns treinos? Foi e é um presente de grego e mesmo assim o governador faz questão de afirmar que fez um grande esforço para trazer a Seleção para fazer esses treinos em nossa Capital. Enquanto isso os hospitais precisam de mais UTIs e mais leitos e falta dinheiro para reforma de escolas, muitas delas caindo sobre os alunos e professores.
Nenhum Governo sério faria algo parecido. O Ministério Público de Goiás processou o ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende Machado, porque alugou tendas para promover vacinação e imunizar milhares de goianienses e por ser uma medida urgente decretou dispensa de licitação, mesmo porque o valor foi de pouco mais de R$200 mil. Iris foi condenado a devolver o dinheiro do próprio bolso e se não fosse o Tribunal de Justiça de Goiás, mesmo com a maioria de seus membros indicados pelo governador Marconi Perillo, que reformou a sentença, ele teria ficado inelegível. Agora, foram R$2,5 milhões repassados para uma entidade esportiva particular e o Ministério Público não agiu. É um fato gravíssimo que precisa ser denunciado de maneira contundente.
Inicialmente falaram que a Seleção Brasileira iria ficar em Goiânia durante quinze dias, depois baixou para dez dias e agora acaba de anunciar que vai ficar em Goiânia apenas durante quatro dias e neste tempo vai realizar apenas um ou dois treinos com portões fechados. Foi tudo política e o esforço não passa de mais uma tentativa do Governador reconquistar prestígio depois do escândalo da Operação Monte Carlo.
O Governo fala em falta de recursos para reformar escolas, para resolver problemas da UEG, para ampliar a Estação de Tratamento de Esgoto do DAIA e para arrumar as estradas goianas, enquanto isso doa R$2,5 milhões para o time de futebol mais rico do Estado. Para isso ai os partidos de oposição ao Governo Federal nada falam, mas ruma o pau no Governo Federal que emprestou recursos do BNDES para o Corinthians construir o Itaquerão, em São Paulo, que vai sediar jogos da Copa do Mundo. Eu disse que o Governo Federal emprestou, via BNDES, e não doou como fez Marconi Perillo. Para conseguir o empréstimo o Corinthians deu em garantia o Parque São Jorge, que vale milhões de Reais. Mas não foi nada em forma de doação, pelo contrário: foi um empréstimo com garantia e juros. Enquanto isso, o Goiás recebeu R$2,5 milhões como donativo para receber a Seleção Brasileira para treinar durante quatro dias. Na pior das hipóteses, a Justiça deveria condenar o governador a devolver o montante do próprio bolso, porque não se faz ação desse tipo à custa dos recursos públicos. Como vai explicar isso para o Tribunal de Contas do Estado?
Mas quando o governo tem maioria na Assembleia Legislativa, quando tem maioria no TCE e quando tem forte influência no Ministério Público do Estado, nenhum tipo de punição vai receber e assim sendo, tudo pode, e ainda é aplaudido pela imprensa paga do Estado e pelos seus aliados políticos. Manda quem tem o poder para tal e obedece quem precisa das benesses do Governo. Se O Anápolis não fosse um veículo independente não estaria publicando esse artigo.
Em tempo: O Anápolis, nos últimos 15 anos nada recebeu do Governo do Estado, a não ser a publicação de algumas matérias pagas no final do Governo de Alcides Rodrigues, assim mesmo não recebeu pelo serviço que prestou. Não fazemos isso porque não precisamos. Muito pelo contrário, o jornal está cada vez mais pobre e mais endividado, mas não nos arredamos de nossa linha de independência que sempre pautou nossos objetivos. Assedio de todo tipo já tivemos para participar do grupo de jornais cegos, surdos e mudos, mas preferimos manter a nossa coerência, apesar das intermináveis dificuldades por que passamos no nosso dia a dia.
A única coisa que pedimos a Deus é força para continuar nossa luta que iniciou em 1986 e nesse tempo tivemos que enfrentar mais de trinta processos, que os detentores do poder ajuizaram para tentar nos calar, mas não nos calamos e ainda permanecemos de pé.
Dilmar Ferreira (Jornal O
Anápolis)
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