terça-feira, 2 de julho de 2013

Facções usam redes sociais para recrutar criminosos e anunciam mortes de rivais em Facebook

Michael Pereira morto a tiros no lava jato
Integrantes de duas facções criminosas que atuam na Grande João Pessoa estão usando a internet para burlar a vigilância reforçada em bairros da Capital paraibana a partir da instalação de Unidades de Polícia Solidária (UPS). Através de perfis, que muitas das vezes são fakes (nomes falsos), traficantes usam o Facebook, a rede social mais popular no Brasil atualmente, para recrutar simpatizantes, comemorar a morte de rivais ou simplesmente se vangloriar dos feitos criminosos.
No bairro de Mandacaru, na zona norte de João Pessoa, onde existem comunidades carentes, a instalação de uma Unidade de Polícia Solidária (UPS) conseguiu reduzir o índice de criminalidade, logo após a sua implantação. 

O local era palco de confronto entre facções criminosas rivais que se intitulam “Estados Unidos” e “Okaida”. Os dois grupos haviam dado uma trégua e, agora, estão testando seu poder de fogo com provocações e relatos de vítimas em redes sociais. Na última semana de junho, entre a segunda (24) e o domingo (30), pelo menos dois assassinatos e outras quatro tentativas de homicídios foram registrados, conforme consta nos registros da Polícia Militar da Paraíba.
Diego da Silva, 20 anos; e Michael Pereira Honório, 21 anos, foram assassinados no intervalo de poucas horas. As vítimas eram moradoras da comunidade Porto de João Tota que, segundo a polícia, tem o domínio da gangue da ‘Okaida’. Segundo informações de familiares, os jovens não tinham envolvimento com o tráfico local. A autoria está sendo atribuída pela PM aos criminosos da facção ‘Estados Unidos’.
Segundo o boletim médico do Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, quatro pessoas foram baleadas durante um tiroteio no último sábado (29). As vítimas estavam em frente de casa quando foram atingidas pelos disparos, conforme consta no relatório da unidade militar.
Recrutamento
Numa rápida pesquisa nas redes sociais, a reportagem localizou uma página no Facebook onde um grupo sugere o recrutamento de novos ‘soldados do crime’, visando executar os rivais em comunidades de Mandacaru e expandir a área de atuação no crime.
Com o nome de ‘O.K.D Mizera’ e utilizando mensagens codificadas, integrantes da facção ‘Estados Unidos’ criaram a comunidade, que anuncia a organização e execução de ações através do Facebook. Em uma das postagens, um jovem diz:  “Nois hoje feis logo um pacote do boy do porto kkkk er estado. Tu viu no lava jato” (sic).  'Estado' é alusão à facção 'Estados Unidos'. O próprio nome da comunidade, ‘O.K.D Mizera’, reforça a rivalidade com a outra facção.
Para os policiais, uma referência ao crime onde o jovem Michael Pereira Honório, 21 anos, foi executado na última quarta-feira (26), quando lavava carro em um lava jato localizado na avenida Ayrton Senna, em Mandacaru. Segundo levantamento feito pela Polícia Militar, o jovem morava na comunidade Porto de João Tota, que é dominada pela facção ‘Okaida’.
Conversa do grupo capturada pela reportagemFoto: Conversa do grupo capturada pela reportagem
Créditos: Reprodução/Facebook

 Na linha do trem
A briga pelo controle do tráfico de drogas tem feito vítimas fora desse círculo da criminalidade das duas facções. A Estação Ferroviária do bairro, onde normalmente milhares de pessoas utilizam o serviço, teve os trabalhos interrompidos por várias vezes e o itinerário dos trens modificado em virtude de uma série de assaltos e algumas tentativas de homicídios no local. A estação está instalada em uma faixa dominada pela facção dos ‘Estados Unidos’.
Os constantes assaltos e as brigas dentro no local motivaram uma reunião de emergência entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a CBTU para providências emergenciais, na tentativa de acabar com os crimes dentro e nas imediações da estação ferroviária do bairro. O policiamento foi reforçado no local, mas o relato dos passageiros é que menores entram nos vagões e fazem assaltos durante o trajeto, longe do alcance das viaturas policiais.
UPS
A Unidade de Polícia Solidária (UPS) foi instalada em outubro de 2011 com a finalidade de pacificar a comunidade. As primeiras ações no bairro surtiram efeito e houve uma redução drástica no número de assassinatos, assaltos e tentativa de homicídios. Mandacaru, que ostentava o título de bairro mais violento de João Pessoa, perdeu a posição para Mangabeira, na zona sul.
Em junho deste ano, as facções ‘ressuscitaram’ e reiniciaram os confrontos. A Polícia garante que está monitorando essa movimentação pelas redes sociais, mas que além das ações ostensivas de combate, o serviço de inteligência da corporação também foi acionado.
Sob com comando do capitão Antônio Sousa, os policiais estão realizando incursões em vários trechos do bairro. Ele disse que a PM não deixará que a população local volte a viver atemorizada. O capitão anunciou que vai intensificar as ações e pediu ajuda da população no sentido de identificar e denunciar os marginais.
“Estamos reforçando o policiamento nos locais considerados críticos e o serviço de inteligência está rastreando os responsáveis pelos crimes nos últimos dias em Mandacaru. As operações vêm sendo realizadas com frequência na comunidade e alguns homicidas, assaltantes e traficantes foram presos. A ajuda da população é imprescindível e sigiloso. Não é preciso se identificar. Quem quiser denunciar pode ligar para 8619-2213 ”, ressaltou o capitão Antônio Sousa, que comanda a UPS do bairro.
Para o comandante, a Polícia está prestes a prender vários bandidos envolvidos nos crimes em Mandacaru. "Estamos trabalhando para dar uma resposta rápida a sociedade. Várias batidas policiais estão sendo realizadas e continuamos com a ‘Operação Saturação’. Não podemos deixar que moradores sejam reféns de bandidos. Operações serão feitas e vamos lograr êxito no desbaratamento dessas facções”, anunciou.
Reprodução de conversa entre criminososFoto: Reprodução de conversa entre criminosos
Créditos: Reprodução/Internet

Infraestrutura
O bairro de Mandacarú tem uma boa infraestrutura e uma população estimada em pouco mais de 12,5 mil habitantes. São cerca de 6,7mil mulheres e 5,8 mil homens.

Em 80% das ruas do bairro existe saneamento básico e água encanada. Contudo, é tido como um dos mais violentos da capital paraibana.

O bairro é composto pelas comunidades: Cinco Bocas, Baixada, Beira da Linha, Porto João Tota, Beira Molhada, Jardim Coqueiral e Jardim Mangueira.

Portal Correio

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