|
Reservatório serve para o abastecimento de pelo
menos 18 famílias (Foto: Taiguara Rangel/G1) |
Considerada um bem raro para os moradores da zona rural de
Olivedos,
no Curimataú paraibano, há quase trezentos anos a água continua sendo
escassa na região. Estas famílias, que representam 47,6% dos quase
quatro mil habitantes do município – povoado a partir de 1722 e
emancipado em 1961 – nunca tiveram acesso a água encanada e convivem até
hoje com a necessidade de carros-pipa e poços artesianos para abastecer
suas casas com líquido considerado impróprio para consumo. Na falta
destas opções, mesmo possuindo um rendimento mensal mediano per capita
de apenas R$ 127,50, os agricultores precisam comprar água por até R$
200.
Os dados são os mais recentes divulgados sobre os olivedenses,
levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE/2010). De acordo com a gerência de execução de obras da Secretaria
de Infraestrutura do estado, atualmente 170 municípios na Paraíba estão
sendo atendidos com abastecimento de carros-pipa por decreto de
situação emergencial. Também já foram recuperados 133 poços artesianos
desde outubro do ano passado, somados a outros 353 que ainda passarão
por reformas.
De acordo com o Governo da Estado, a zona urbana é abastecida pela
Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), com fornecimento a 697
'ligações de água'. Conforme o IBGE, 93,4% das casas naquela zona rural
têm saneamento básico considerado inadequado.
|
Cerca de 12 carros-pipa retiram água diariamente de poço artesiano em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1) |
Um dos únicos poços artesianos que fornecem água aos agricultores na
zona rural de Olivedos fica na fazenda Campos. Construído em 1992,
diariamente chegam até 12 carros-pipa do exército e particulares
retirando o líquido do poço em períodos de seca, segundo o proprietário
Lídio Meira. A fazenda também possuiu durante muito tempo a única fonte
de abastecimento da zona rural, com um açude que existe desde 1921.
“Esse açude é chamado de 'Milagre' porque, em épocas mais 'brabas', até
Pocinhos e outras cidades ele já ajudou a abastecer sem nunca secar. Já
resistiu a várias secas, até que houve a construção do poço. Continua
vindo gente aqui direto pegar água para o gado e para casa, mas o poço é
que está salvando a vida dos bichos e ajudando todos os moradores por
aqui”, afirmou o administrador da fazenda, Inácio Marcelo, 58 anos.
Um estudo realizado pela Companhia de Pesquisa de Recursos MInerais (CPRM) do Mineistério de Minas e Energia, identificou 44 poços artesianos no município, mas apenas 17 em funcionamento. A água de 91% dos pontos analisados foi considerada salobra, com média na quantidade de sólidos totais dissolvidos (STD) de
8.631,88 mg/L.
|
Açude é uma das poucas opções para consumo
doméstico e de animais (Foto: Taiguara Rangel/G1) |
“Conforme a Portaria 1.469/Funasa, que estabelece os padrões de
potabilidade da água para consumo humano, o valor máximo permitido para
os sólidos dissolvidos é 1.000 mg/L. Teores elevados neste parâmetro
indicam que a água tem sabor desagradável, podendo causar problemas
digestivos, principalmente nas crianças, e danifica as redes de
distribuição”, assinalam os pesquisadores.
Para Fernandes Pereira, 22 anos, seus quatro irmãos e ainda os pais, o
açude considerado 'milagre' é a única fonte de água existente. Ele
considera a água boa para o consumo de toda a família, que subsiste
majoritariamente do trabalho em uma olaria na região. “Serve para tudo
aqui em casa. Acho que retiramos uns 200 litros por dia. É para banho,
beber, lavar a casa e ainda dar para as galinhas”, disse. Outras 18
famílias na fazenda Campos também dependem do açude e ainda do poço para
o acesso à água.
Porém, para aqueles a quem a operação carro-pipa atende de modo
insuficiente, resta como única solução comprar água. O abastecimento
particular de 6 a 8 mil litros custa de R$ 120 a R$ 200, segundo a
merendeira Lúcia de Fátima, da escola municipal José Inocêncio, zona
rural de Olivedos. Assim, o morador da zona rural acaba gastando mais do
que o próprio sustento para comprar água. O rendimento mensal mediano
per capita dos agricultores na zona rural de Olivedos é de apenas R$
127,50, enquanto a média na Paraíba é de R$ 170, conforme o IBGE.
“Já moro aqui há mais de 20 anos e vi muita seca. Praticamente só tem
dois poços com água suficiente para abastecer a população. Na cidade tem
a água encanada de Boqueirão (açude Epitácio Pessoa) que só chega à noite, mas na zona rural o jeito
é comprar água porque o carro-pipa do Exército não dá para o consumo do
mês”, alegou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário