segunda-feira, 13 de maio de 2013

Consumir água imprópria é única opção de famílias em zona rural na PB


Taiguara Rangel Do G1 PB
Açude ainda serve para o abastecimento de pelo menos 18 famílias em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Reservatório serve para o abastecimento de pelo
menos 18 famílias (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Considerada um bem raro para os moradores da zona rural de Olivedos, no Curimataú paraibano, há quase trezentos anos a água continua sendo escassa na região. Estas famílias, que representam 47,6% dos quase quatro mil habitantes do município – povoado a partir de 1722 e emancipado em 1961 – nunca tiveram acesso a água encanada e convivem até hoje com a necessidade de carros-pipa e poços artesianos para abastecer suas casas com líquido considerado impróprio para consumo. Na falta destas opções, mesmo possuindo um rendimento mensal mediano per capita de apenas R$ 127,50, os agricultores precisam comprar água por até R$ 200.

Os dados são os mais recentes divulgados sobre os olivedenses, levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010). De acordo com a gerência de execução de obras da Secretaria de Infraestrutura do estado, atualmente 170 municípios na Paraíba estão sendo atendidos com abastecimento de carros-pipa por decreto de situação emergencial. Também já foram recuperados 133 poços artesianos desde outubro do ano passado, somados a outros 353 que ainda passarão por reformas.
De acordo com o Governo da Estado, a zona urbana é abastecida pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), com fornecimento a 697 'ligações de água'. Conforme o IBGE, 93,4% das casas naquela zona rural têm saneamento básico considerado inadequado.
Cerca de 12 carros-pipa retiram água diariamente de poço artesiano em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Cerca de 12 carros-pipa retiram água diariamente de poço artesiano em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Um dos únicos poços artesianos que fornecem água aos agricultores na zona rural de Olivedos fica na fazenda Campos. Construído em 1992, diariamente chegam até 12 carros-pipa do exército e particulares retirando o líquido do poço em períodos de seca, segundo o proprietário Lídio Meira. A fazenda também possuiu durante muito tempo a única fonte de abastecimento da zona rural, com um açude que existe desde 1921.

“Esse açude é chamado de 'Milagre' porque, em épocas mais 'brabas', até Pocinhos e outras cidades ele já ajudou a abastecer sem nunca secar. Já resistiu a várias secas, até que houve a construção do poço. Continua vindo gente aqui direto pegar água para o gado e para casa, mas o poço é que está salvando a vida dos bichos e ajudando todos os moradores por aqui”, afirmou o administrador da fazenda, Inácio Marcelo, 58 anos.
Um estudo realizado pela Companhia de Pesquisa de Recursos MInerais (CPRM) do Mineistério de Minas e Energia, identificou 44 poços artesianos no município, mas apenas 17 em funcionamento. A água de 91% dos pontos analisados foi considerada salobra, com média na quantidade de sólidos totais dissolvidos (STD) de 8.631,88 mg/L.
Açude é uma das poucas opções para consumo doméstico e de animais em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Açude é uma das poucas opções para consumo
doméstico e de animais (Foto: Taiguara Rangel/G1)
“Conforme a Portaria 1.469/Funasa, que estabelece os padrões de potabilidade da água para consumo humano, o valor máximo permitido para os sólidos dissolvidos é 1.000 mg/L. Teores elevados neste parâmetro indicam que a água tem sabor desagradável, podendo causar problemas digestivos, principalmente nas crianças, e danifica as redes de distribuição”, assinalam os pesquisadores.
Para Fernandes Pereira, 22 anos, seus quatro irmãos e ainda os pais, o açude considerado 'milagre' é a única fonte de água existente. Ele considera a água boa para o consumo de toda a família, que subsiste majoritariamente do trabalho em uma olaria na região. “Serve para tudo aqui em casa. Acho que retiramos uns 200 litros por dia. É para banho, beber, lavar a casa e ainda dar para as galinhas”, disse. Outras 18 famílias na fazenda Campos também dependem do açude e ainda do poço para o acesso à água.
Porém, para aqueles a quem a operação carro-pipa atende de modo insuficiente, resta como única solução comprar água. O abastecimento particular de 6 a 8 mil litros custa de R$ 120 a R$ 200, segundo a merendeira Lúcia de Fátima, da escola municipal José Inocêncio, zona rural de Olivedos. Assim, o morador da zona rural acaba gastando mais do que o próprio sustento para comprar água. O rendimento mensal mediano per capita dos agricultores na zona rural de Olivedos é de apenas R$ 127,50, enquanto a média na Paraíba é de R$ 170, conforme o IBGE.
“Já moro aqui há mais de 20 anos e vi muita seca. Praticamente só tem dois poços com água suficiente para abastecer a população. Na cidade tem a água encanada de Boqueirão (açude Epitácio Pessoa) que só chega à noite, mas na zona rural o jeito é comprar água porque o carro-pipa do Exército não dá para o consumo do mês”, alegou.

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