O
bispo da Diocese de Patos, Dom Eraldo Bispo da Silva, coordenou na
manhã desta terça-feira 30, na Cúria, uma reunião com representantes da
rede de saúde pública local e regional, com intuito de buscar soluções
para os problemas que se arrastam há bastante tempo, causando
desconforto aos usuários do SUS, que clamam por melhores serviços.
Representantes
do município, a exemplo da secretaria municipal de saúde, do Conselho
Municipal de Saúde, Gerência Regional de Saúde, dos hospitais Regional
Janduhy Carneiro, Maternidade Dr. Peregrino Filho, além de padres das
foranias das Espinharas atenderam o chamado da Igreja, cuja Campanha da
Fraternidade de 2012 tratou do tema “Que a saúde se difunda sobre a
terra”, na missão de ampliar o debate em torno dessa questão, uma
realidade que faz parte da sociedade brasileira.
Os
serviços da atenção básica e do Regional de Patos foram o alvo das
discussões dos presentes, sem esquecer a categoria médica, considerada
escassa, uma carência apontada por alguns como sendo uma das causas do
permanente problema na saúde pública na região. Houve críticas em
relação ao comportamento de muitos médicos que estariam mais preocupados
com o lado financeiro do exercício da profissão, deixando de cumprir
sua jornada de trabalho devido o acúmulo de vínculos empregatícios.
Dom
Eraldo lembrou da missão da Igreja Católica e sua presença nos debates
em torno das ansiedades da sociedade, destacando o trabalho pastoral em
prol da saúde. Houve interferência dos padres presentes, a exemplo de
Romero Almeida, José Ronaldo, João Saturnino, Evandro Pessoa, Flávio
Mamede, todos preocupados e ressaltando a necessidade de que saísse algo
concreto do encontro que trouxesse alento às necessidades da população
na assistência à saúde.

Todos
reconheceram as falhas existentes sob sua jurisdição. É o caso do PSF. A
secretária de saúde de Patos, Illana Mota, disse que há médicos em
todas as 37 unidades de saúde, mas que a população reclama da ausência
deles nos postos e do curto tempo que eles passam no local de trabalho.
Explicou que é um problema difícil de resolver e que na reunião agendada
com os médicos, que vão pedir aumento salarial, irá cobrar o
cumprimento da jornada de trabalho. O médico do PSF de Patos percebe
vencimentos de R$ 9.200,00, segundo Illana.
O
Hospital Regional de Patos realiza mais de 4 mil atendimentos
ambulatoriais ao mês, algo que deveria ser feito pelas unidades de saúde
da região. Sobre a inauguração da primeira UPA – Unidade de Pronto
Atendimento, que deveria ter ocorrido há dois em Patos, Illna justificou
que houve problemas de ordem burocrática com a empresa responsável pela
obra, a qual teria falido e o processo teve que ser revisto.
Ela
disse, porém, que o município não pode se responsabilizar pela falta de
médicos no Hospital Regional, o que levou a interdição da UTI. João
Carlos da Silva, representando a diretora do Janduhy Carneiro, Sílvia
Ximenes, falou sobre a interdição da UTI, lembrando que o que ocasionou
isso foi a falta do médico que não cumpriu a escala, sendo que foi
aberto processo administrativo e o fato levado ao CRM. João também
informou que as escalas médicas já estão sendo divulgadas no site do
Hospital e repassadas ao CRM e Ministério Público.
O
gerente da regional de saúde, José Leudo fez longa explanação sobre as
falhas de cada entidade pública, seja estadual, municipal. Apresentou
números dos recursos repassados pelo governo federal para a atenção
básica dos municípios, onde só na região de Patos foram transferidos
mais de R$ 24 milhões, de janeiro a abril deste ano. Citou vários
exemplos de descasos com a saúde que precisam ser corrigidos, cometidos
por profissionais de saúde.
Nem
mesmo os conselhos municipais de saúde escaparam das críticas. Cerca de
95% deles, segundo Padre João Saturnino, de Taperoá, números endossados
por Valares, são subservientes aos gestores municipais, deixando de
cumprir suas funções fiscalizadoras e zeladoras dos interesses da
coletividade.

O
diretor clínico da Peregrino Filho, Paulo Athayde, acompanhado de Luiz
Bandeira, diretor do Instituto Social Fibra, que administra esse
hospital, falou das mudanças ocorridas na Maternidade, pesquisas
científicas ali desenvolvidas, grau de satisfação da clientela, que
ultrapassa os 95%, redução de mortalidade, além da educação continuada,
introdução de importantes serviços, como a de mamografia, que já atendeu
mais de duas mil mulheres de agosto do ano passado aos dias atuais,
consultório de alto risco, dentre outros.
O
presidente do Conselho Municipal de Saúde, João Bosco Valadares,
mostrou que nos últimos 10 anos houve grandes avanços do SUS em Patos,
mas que há problemas que precisam ser atacados. Um exemplo é o PSF, com
falhas que começam pelos médicos, que não possuem especialização como
sanitarista, essencial para se trabalhar na prevenção de doenças da
comunidade.
A
baixa qualidade no acompanhamento do pré-natal pelo PSF de toda a
região foi também destacado, pelas consequências que podem ocorrer à
mulher e ao seu bebê. O bispo da Diocese de Patos cobrou mais atitude de
todos na busca de solução dos problemas que afligem a população,
ficando decidido que essas discussões, a exemplo da ocorrida hoje, serão
permanentes, podendo ser convidado já para o próximo evento o
Ministério Público. Pediu também punição ao médico do PSF que não cumpre
com suas obrigações, deixando de atender a demanda popular.
Um
documento reivindicatório está sendo elaborado para ser entregue ao
governador Ricardo Coutinho na audiência pública do Orçamento
Democrático do Estado, que acontece em Patos neste sábado, dia 4, às
19h. “Devemos ter esse espaço permanente de diálogo, reflexão para
facilitar na superação das dificuldades, que são muitas na saúde, que
afetam nosso povo mais pobre, mais humilde, sem condições sociais de se
tratar de forma mais digna”, comentou Dom Eraldo.
Marcos Eugênio
Nenhum comentário:
Postar um comentário